Será que há um meio termo entre os ALGUNS “dinossauros” da ópera (que consideram que respirar certo é 90% do canto) e os radicais que sugiram a partir da década de 1970 (que consideram que o jeito que você respira para cantar deve ser o jeito que você respira para falar)?
Sim, com certeza! Métodos modernos, como os que tomamos como base aqui no estúdio (sendo o principal o Singing Success do Brett Manning) apresentam um equilíbrio legal entre esses dois extremos que falamos acima. Temos sim que trabalhar respiração, mas não podemos achar que SÓ isso é suficiente para cantar bem.
Ao pessoal da ópera, podemos dizer que há vários problemas que não se resolvem simplesmente com respiração. Um engano muito comum que eles cometem, por exemplo, é pedir para quem tem uma certa soprosidade na voz, “apoiar”. Pus entre aspas porque não gosto quando esse termo vem sem a devida definição.
Apoio (support em inglês) seria usar de forma consciente e controlada o processo de aprisionamento e de fluxo do ar durante ato de cantar ou falar. Em geral, não usamos o termo no estúdio (a não ser com a definição precisa) para não confundir os alunos que já tiveram aulas em outros lugares ou aqueles que pesquisam na internet. O problema com a palavra apoio é que virou uma solução fácil que alguns professores aplicam para TODOS os problemas da voz.
No nosso exemplo da pessoa que canta com um pouco de soprosidade o problema, em geral, é que as pregas vocais não estão funcionando da maneira adequada (não estão aproximando – ou aduzindo – como deveriam durante movimento de vibração). A melhor solução para essa pessoa seria exercícios que corrijam esse movimento das pregas e não exercícios de respiração.
E o que dizer do outro extremo? Aos radicais que surgiram a partir da década de 70? Bem, apesar de alguns deles terem muito mérito em desmistificar muita coisa que estava cristalizada no ensino do canto pela ópera, aqui eles não estão 100% corretos. Simplesmente porque apesar do ato de cantar usar basicamente a mesma musculatura do ato de falar, cantar impõe uma demanda muito maior ao nosso corpo.
Então qual a solução? Trabalhar de forma equilibrada exercícios de respiração e exercícios vocais que não envolvem diretamente a respiração. Por isso, a função do vocal coach é importantíssima para diagnosticar corretamente o problema e propor os exercícios e o tempo que o aluno deve treinar de cada assunto.
Cantar é um ato que envolve algum tipo de constrição (nome chique para apertar). Não importa o quão relaxado você está ou o quanto suave você canta, sempre haverá algum grau de constrição. A respiração serve então para balancear esse sistema normal de constrição da musculatura vocal ao cantar.
Após um certo tempo de exeperiência, você aprende, asssim que canta um trecho, a se perguntar: devo usar mais pressão (constrição) ou mais fluxo de ar? Se houver muita constrição no ato de cantar, você pode simplesmente não conseguir cantar ou se machucar no processo. Se houver muito fluxo de ar, sua voz pode ficar fraca e soprosa.
Isso que disse acima é simplesmente o ponto de vista técnico. Devemos também considerar esses aspecotos do ponto de vista do estilo. Cantar Rock por exemplo, em geral, envolve mais pressão do que cantar MBP; se você quiser explorar outros registros vocais (como o falsete) terá que usar mais fluxo de ar; e assim por diante.
O recado final (principalmente a quem não faz aula conosco) é desconfiar se você ouvir alguém falando de respiração (e do apoio) como solução para TUDO ou que exercícios específicos de respiração não servem para NADA!