Em fóruns na internet, vídeos no YouTube ou mesmo em algumas escolas de música que oferecem aulas de canto é muito comum você ouvir a seguinte frase: a primeira coisa que temos que fazer ao começar as aulas é descobrir se você é soprano, contralto, tenor ou baixo.
Será que isso é verdade? Será que saber se você é soprano por exemplo faz muita diferença no estudo do canto (principalmente no início da sua caminhada)?
Para responder a essa pergunta, precisamos entender um pouco de história da música, em que momento e porque surgiram as aulas de canto.
Os primeiros registros que temos de uma pessoa “ensinando” a outra a cantar se confundem um pouco com os inícios da ópera. Justamente foi na ópera que o repertório vocal começou a ser um pouco mais exigente em termos técnicos e musicais e notou-se que algumas pessoas tinham uma desenvoltura um pouco maior ao cantar as primeiras árias enquanto outras tinham mais dificuldade.
Por volta do século XVII os métodos empregados no ensino do canto eram muito precários. Faltava obviamente todo o avanço da medicina em termos de exames e estudos que todos os séculos posteriores proporcionaram a nós, mas faltava também muito tempo de experiência e reflexão sobre os problemas e os caminhos para solucioná-los por parte dos preparadores vocais (mais tarde conhecidos como vocal coaches). Era muito comum apelar tão somente para a intuição, o uso de imagens muito abstratas e pontos muito pessoais de alguém que cantava bem.
E por que isso é ruim?
Simplesmente porque a intuição não funciona para todo mundo e principalmente não funciona o tempo todo; imagens abstratas podem fazer sentido para uma pessoa e não para outra. Métodos extremamente pessoais também são problemáticos porque podem não fazer nenhum sentido para o seu colega ou aluno.
E se eu contasse para você que tem professores de canto que cometem esses mesmos erros até hoje? Pois é, por isso mesmo que até já escrevemos um post sobre a melhor maneira de escolher seu vocal coach. Acesse esse post aqui
E o que isso tem a ver com descobrir se sou soprano, contralto, tenor ou baixo?
Tem tudo a ver! Descobrir sua classificação vocal, ou seja, se você é soprano, contralto tenor ou baixo é muito importante na ópera e na música coral.
É inegável que a história da voz está muito ligada à história da ópera, mas em música popular temos um ponto fundamentalmente diferente: o uso do microfone. Nele podemos fazer um agudo ou um grave não muito potente (em termos de amplitude sonora) e mesmo assim isso pode funcionar dentro da música. Na ópera ou no coral, você precisa saber exatamente sua classificação vocal para que em todas as notas que você precisará cantar você tenha a possibilidade de ter muita potência (novamente em termos de amplitude) sonora.
Outro ponto que a música popular se diferencia é na flexibilidade em relação aos tons das músicas. É muito difícil na ópera ou na música coral a mudança de tom. A orquestra e os outros cantores já têm todas as partituras prontas e qualquer mudança de tom envolveria muito trabalho para refazer as partes e reensaiar as músicas. Além disso, muitas músicas são de execução muito difícil em seus instrumentos ou vozes e uma mudança de tom poderia favorecer um cantor, mas atrapalhar todo o restante dos músicos.
Bom, mas e seu meu interesse for ópera ou coral?
Aí sim, como dissemos, a classificação vocal tem um ponto importante, mas considere antes 2 pontos apenas:
Depois de feita essas duas considerações, vamos aos principais tipos vocais:
Como também dissemos no post sobre como descobrir seu tom (acesse aqui) é muito importante ver se você não está conseguindo fazer um agudo por falta de estudo de técnica vocal ou por alguma impossibilidade fisiológica. Na maior parte das vezes falta estudo mesmo. Por isso, muitas pessoas acham que pertencem a classificações graves (contralto e baixo), mas na verdade elas são barítonos, tenores, mezzo-sopranos ou sopranos.
Por isso se você for cantor popular não se prenda muito a essas classificações, estude técnica, aprenda a usar o microfone e aprenda a mudar algumas músicas de tom da maneira correta. Se você se interessa por ópera ou coral, estude técnica vocal também, tenha paciência e aprenda a classificar corretamente sua voz.
Interessante como técnica vocal se aplica aos dois casos, não?