Registros vocais

Aqueles que começam a estudar canto logo se deparam com os termos voz de cabeça, voz de peito, voz mista, falsete, voz de assobio (whistle voice) etc. Muitos preparadores vocais tentam definir perfeitamente esses termos (incluindo definições fisiológicas, referentes à musculatura) e transmitem isso até mesmo aos alunos que querem cantar como hobby.

Todos os termos listados acima têm a ver com registros vocais. Qual é a importância deles no canto? E todo mundo que quer aprender a cantar precisa saber tudo o que acontece em termos fisiológicos? Cantar em falsete é errado? Quem tem uma nota aguda legal e poderosa está cantando com a voz de peito?

Primeiro, o que você lerá a seguir é UMA das visões. Não há um consenso completo sobre o assunto e, ainda hoje, muitos treinadores vocais, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas no mundo todo estudam o assunto com muita seriedade e profundidade.

Bom, mas e os registros?

Uma definição muito simplista é que o registro é “uma série consecutiva de tons com propriedades semelhantes”.

Do ponto de vista científico ou laríngeo, o registro é uma série consecutiva de tons produzidos com o mesmo mecanismo.

Do ponto de vista do canto ou acústico/perceptual, um registro é uma série consecutiva de tons produzidos com uma qualidade vocal semelhante.

Ponto de vista científico

Vamos adotar o conceito de Minoru Hirano (1974), que introduziu o conceito de Body-cover (corpo-cobertura) na anatomia das pregas vocais, em que Cover (cobertura) consiste nas duas camadas superiores de tecido e Body (corpo) consiste nas três camadas inferiores de tecido, totalizando cinco camadas.

Podemos definir os registros de acordo com as partes da dobra que estão vibrando:

  • M0: quando o corpo e a tampa estão soltos;
  • M1: onde o corpo e a tampa vibram;
  • M2: onde o corpo não vibra mais;
  • M3: quando as pregas vocais são muito finas e fortemente esticadas, apenas a tampa vibra e, com frequência, há fechamento incompleto das pregas.

Em termos mais familiares:

  • M0: vocal fry ou registro pulsátil;
  • M1: registro modal ou registro normal ou voz de peito / voz mista (voz mista ou média)** / voz de cabeça*;
  • M2: voz de cabeça* (falsete – veja abaixo) / voz mista (voz mista ou média)**;
  • M3: voz de apito, whistle voice ou registro de apito.

* Dependendo da terminologia adotada, a voz de cabeça se encaixa em M1 ou M2 (mais detalhes abaixo);

** A voz mix (voz mista ou intermediária) aparece em M1 e M2 por outros motivos que não a voz principal. Nesse caso, os cantores realmente podem acessar essa coordenação de diferentes maneiras.

Ponto de vista do Canto ou acústico/perceptual

Aqui as coisas podem variar muito, pois os sons de cada indivíduo dependem muito do formato de seu trato vocal. O timbre e a intensidade também costumam enganar nossa percepção.

Muitos termos permanecem subjetivos do ponto de vista do canto, mas, apesar disso, achamos importante discutir os termos peito, cabeça, mixagem, falsete etc. com você, porque muitos aprendem principalmente por meio de feedback acústico, perceptual e sensorial. Mas certifique-se de saber exatamente quais são esses sons resultantes em sua própria voz.

É importante lembrar que toda a voz é produzida nas pregas vocais. As sensações vibratórias (e as nomenclaturas resultantes) podem ser sentidas na cabeça, no peito etc. por fenômenos de ressonância.

Como guias gerais, poderíamos usar:

  1. Fry: é o registro mais grave. O nome em inglês tem a ver com algo que está fritando (borbulhando) na frigideira. Usado, por exemplo, por monges tibetanos para cantar graves abaixo de seu alcance vocal “normal”. Alguns cantores, especialmente os de música country, usam-na como forma de iniciar uma nota grave. Um uso muito legal para ele é quando a pessoa tem um grave fraco em sua voz;
  1. Modal: também chamado de normal exatamente porque é onde se concentra a maior parte das vozes faladas e cantadas das pessoas. Nós aqui no estúdio gostamos de subdividir esse registro em: voz de peito, voz mista (voz mista ou média) e voz de cabeça. A ideia é que as notas graves se concentrem na ressonância do peito, as notas médias e médias-altas (quando queremos potência e maior envolvimento emocional) estejam na mistura da voz – uma mistura de um pouco de peito, um pouco de cabeça, um pouco de ressonância faríngea e talvez um pouco de compressão – e, por fim, as notas mais altas se concentrem na ressonância da cabeça;
  1. Falsete: produção em que a voz tem um som semelhante ao som de uma flauta. O termo falsete vem do italiano como um diminutivo da palavra falso. Daí, talvez, venha grande parte do preconceito com relação a esse termo, como se ele não pertencesse à voz de uma pessoa ou mesmo que fosse errado usar essa produção vocal. A música pop está repleta de exemplos de falsete;
  1. Voz de apito: é o registro mais alto. O termo vem do inglês porque, nessa produção, há a ideia de que a voz é muito aguda e estridente, parecendo um apito. Muito pouco usado na música, mas há exemplos dessa produção em algumas canções de Mariah Carey.

O registro modal e a voz mista merecem uma postagem separada. Essa foi apenas uma pincelada geral.

Falsete ou voz de cabeça?

Na discussão anterior, a voz de cabeça pode aparecer tanto em M1 quanto em M2.

Essa é uma batalha eterna, talvez até façamos outro post (quantos posts a mais, não é mesmo?) exclusivamente sobre isso para não sobrecarregarmos este, mas de uma forma bem simples: há uma linha de pensamento que diz que a voz de cabeça é mais cheia e que o falsete é caracterizado por um excesso de soprosidade. Portanto, você teria muito mais controle dinâmico (de intensidade – forte e fraca) quando estiver na voz de cabeça. É mais difícil controlar o tom do falsete também precisamente por causa da soprosidade excessiva.

Nós, aqui no estúdio, tendemos a concordar com essa corrente para fins práticos. Nesse caso, a voz de cabeça estaria em M1 e o falsete em M2.

Outra coisa essencial que defendemos aqui no estúdio é que há apenas um erro quando se trata de cantar: machucar-se (a curto e a longo prazo). Fora isso, o resto são escolhas que você faz. Elas podem ser escolhas boas ou ruins e, à medida que você amadurece musicalmente e avança nos estudos de técnica vocal, pode até mudar suas escolhas atuais. Também é importante avaliar as posturas que você está adotando por meio de feedback.

Em um objetivo técnico e simples, devemos, durante o estudo e em um primeiro momento, buscar o equilíbrio da voz. Imagine um gradiente de cores em que uma cor transita para a outra da forma mais suave possível – deveríamos ter isso também em relação aos registros vocais, ao passarmos das notas graves para as agudas e vice-versa.

Mas é claro que isso também tem muito a ver com o estilo de música que você está cantando. Portanto, talvez você não esteja se machucando agora ou não se machuque no futuro, mas, em alguns casos, você pode não estar correspondendo às características mais comuns desse estilo. Poderíamos até classificar isso como um erro de estilo.

Por fim, talvez não seja necessário que você conheça todas as nomenclaturas e musculaturas envolvidas. Depende de seus objetivos, depende da maneira como você aprende as coisas, depende se você é uma pessoa mais intuitiva ou se está conseguindo evoluir por meio do monitoramento de sua voz (em gravações ou com um microfone conectado diretamente enquanto você canta).

O que percebemos que funciona melhor é quando os alunos entendem os objetivos dos exercícios vocais (e atividades do repertório), praticam esses exercícios e atividades regularmente e prestam atenção à postura encontrada durante a aula.

As informações contidas nesta postagem e aquelas mais teóricas fornecidas em sala de aula devem servir apenas como guias e complementos. Um fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista pode saber exatamente (melhor do que os professores de canto) o que acontece no corpo humano quando cantamos, mas mesmo que eles queiram aprender a cantar bem, precisam praticar como todo mundo.

Picture of Raphael Begosso

Raphael Begosso

Formado em Música com habilitação em Composição e Regência pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), a melhor faculdade de música do Brazil. Como um dos melhores alunos de sua turma, conseguiu uma bolsa da CNPQ e foi convidado para integrar um grupo de pesquisa científica conhecito como PET. Raphael trabalhou como diretor, arranjador, e produtor de muitos grupos vocais e corais. Seu grupo CantaMais fez shows por várias cidades de Sãp Paulo e foi convidado para fazer uma participação num programa de TV chamado Programa do Jô da rede Globo de televisão (você pode achar esse vídeo em nosso canal do YouTube). Ele estuda voz desde 1998 e é um vocal coach dede 2002. Estudou tamabém piano, guitarra, violão erudito e canto coral na Escola de Música do Estado de São Paulo (antiga ULM) Um dos grandes mentores de Raphael é Brett Manning que aplica o Singing Success – método de eficiência comprovada e usado por vários cantores famosos e ganhadores de prêmios Grammy, MCA Awards and Dove comoHayley Williams (Paramore), Taylor Swift, Keith Urban, Mark Kibble and Claude Mcknight (Take 6), Michael Barnes, Luke Bryan entre outros.

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